ANTIPARASITÁRIOS
PARA CÃES E GATOS
São derivados macrocíclicos da lactona, bem como as milbemicinas. São obtidos da fermentação do fungo do gênero Streptomyces. As lactonas macrocíclicas não têm atividade contra cestódeos e trematódeos. Acredita-se que a ausência de sinapses GABAérgicas periféricas ou de receptores com alta afinidade possa ser a causa da não sensibilidade destes helmintos.
Principíos ativos descritos:
1) Ivermectina
Atua sobre os estágios adultos e imaturos em desenvolvimento de nematódeos gastrintestinais e pulmonares.
A ivermectina atua como agonista do neurotransmissor GABA (ácido gama-aminobutírico) nas células do sistema nervoso, estimulando sua liberação. Ela também se liga aos canais de cloro ativados por glutamato nas células nervosas e musculares dos invertebrados, causando hiporpolarização, devido ao aumento da permeabilidade desses íons. Em ambos os casos, os sinais neurais dos parasitas são bloqueados acarretando na paralisia e expulsão do parasita. Também pode afetar a reprodução de alguns parasitas, diminuinto a oviposição ou induzindo a uma ovogênese anormal.
Os mamíferos possuem canais de cloro mediados por GABA apenas no sistema nervoso central e, devido à existencia da barreira hematoencefalica nesses animais, a ivermectina não consegue alcançá-los com facilidade. Isso faz com que a ivermectina afete somente o parasita, sem afetar o organismo dos mamíferos, normalmente.
A ivermectina é um derivado semissintético das avermectinas, um grupo de lactonas macrocíclicas produzidas pela Streptomyces avermitilis. Ela consiste numa mistura de Ivermectina B1a e Ivermectina B1b. A ivermectina tem amplo espectro de atividade e é um dos antiparasitários mais vendidos em todo o mundo.
Nomes comerciais (clique para consultar a bula):
Dose única, administrado via oral. É um medicamento com amplo espectro de ação, composto pela associação de ivermectina, pirantel, febantel e praziquantel.
É indicado para cães na prevenção da dirofilariose canina e como tratamento e controle de ascarídeos e ancilóstomas. É composto por ivermectina e pirantel. O cardomec plus deve ser administrado em intervalos mensais, durante todo o ano.
É utilizado no tratamento específico para Giardia, administrando-se uma dose a cada 24 horas durante três dias consecutivos, segundo o fabricante. Além da ivermectina, possui febantel, pirantel e praziquantel em sua formulação. Para todos os outros parasitas, deve-se administrar dose única.
2) Selamectina
É uma avermectina semissintética, possuindo o mesmo mecanismo de ação que a ivermectina. Contudo, quando comparada a ivermectina, ela é considerada mais segura.
Tem eficácia comprovada contra pulgas, carrapatos e sarnas, tanto no cão como no gato. O seu uso é tópico, em dose única e muito eficaz. Além disso, também é indicada para no tratamento e controle de vermes intestinais, como o Toxocara canis. Atualmente é produzida pelo laboratório Pfizer, com o nome comercial de Revolution.
Até o momento não há contraindicações. O produto pode ser administrado em animais prenhes, animais que estão amamentando, filhotes e animais reprodutores.
O uso do medicamento varia conforme o parasita que se deseja combater, podendo ser aplicado mensalmente para prevenir novas infecções.
Nomes comerciais (clique para consultar a bula):
Milbemicinas
Assim como as avermectinas, as milbemicinas também são lactonas macrocíclicas, compartilhando algumas propriedades e o mesmo mecanismo de ação. Ou seja, elas também são agonistas do GABA, que aumentam a permeabilidade dos canais de cloreto, incluindo os que são controlados por glutamato. Não conseguem atravessar a barreira hematoencefálica e, dessa forma, não afetam os mamíferos, apenas os parasitas.
Ela atua contra parasitas intestinais, ácaros, bernes, microfilárias e larvas em desenvolvimento. Contudo, ela não é eficaz contra trematódeos e cestódeos. É também empregada no tratamento contra ancilóstomos, nematelmintos e nematóides; na prevenção da dirofilariose, como acaricida e microfilaricida.
Há algumas raças sensíveis a milbecimicina, onde o fármaco em questão consegue atravessar a barreira hematoencefálica. Entre essas raças estão: Collies, Pastores Australianos, Old English Sheepdogs, Whippets de pelo longo e Pastores de Shetland. Nessas raças, ela pode ser neurotóxica, causando depressão, ataxia, perda da visão, coma e até mesmo a morte.
Essa sensibilidade se deve a uma mutação no gene de resistência a múltiplos fármacos, o MDR1 (ou ABCB1). Isso pode ocorrer também com as avermectinas, ou seja, nas lactonas macrocíclicas de modo geral.
É eliminada no leite, podendo causar efeitos colaterais nos filhotes. Sua excreção ocorre pelas fezes em maior proporção, na sua forma original; e também na urina e leite, em menor proporção.
Gene de Resistência a Múltiplos Fármacos (MDR1):
O gene de resistência a múltiplas drogas (MDR1) codifica uma glicoproteína transportadora de membrana, a glicoproteína-P (Gp-P). A Gp-P atua como uma bomba de efluxo, protegendo o organismo contra determinados fármacos, impedindo sua entrada na célula ou eliminando-os. Os animais que não possuem esse mecanismo de proteção são susceptíveis a essas drogas.
Dessa forma, animais que apresentam sinais de toxicidades quando recebem uma dose terapêutica desses fármacos (avermectinas e milbemicinas) podem ter uma mutação no gene MDR1. Nesse caso, haveria uma deficiência na produção de Gp-P, aumentando a absorção do fármaco na célula e diminuindo sua excreção, causando, assim, efeitos tóxicos no animal.
Dentre as raças que mais estão predispostas a desenvolver essa mutação esta a Collie. Além dela, há relatos de casos nas raças: Pastor de Shetland, Pastor Australiano, Border Collie, Old English Sheepdog, Pastor Australiano Mini, Silken Windhound e o Whippet.
Mais informações sobre o MDR1 e a Glicoproteína-P
Fig.1 - Os transportadores que residem na membrana da célula e tem como função expulsar os farmacos, bem como os metabólitos de dentro da célula.
Fig.2 - Bloqueio do MDR-1 com o acúmulo de um composto fluorescente na célula, que devido ao bloqueio deixou de ser eliminado. Mais sobre assunto
Nomes comerciais (clique para consultar a bula):
Program Plus - Novartis Saúde Animal Ltda.
É composto por Milbemicina oxima e Lufenuron.
Moxidectina
A moxidectina também é uma lactona macrociclica, pertencente ao grupo das milbemicinas. Seu mecanismo de ação é o mesmo da milbemicina.
Nomes comerciais (clique para consultar a bula):
São compostos por moxidectina e imidacloprida.
INTOXICAÇÃO
O medicamento administrado na dose errada ou em raças sensíveis, como a Collie, por exemplo, pode levar a um quadro de intoxicação no animal. Os animais sensíveis à lactonas macrocíclicas podem se intoxicar com doses terapêuticas desse medicamento. Esses animais toleram até 0,1 mg/Kg, enquanto a maioria das raças não sensíveis toleram cerca de 2,5 mg/Kg; ou seja, para esses animais é recomendado utilizar outro medicamento que não contenha avermectina em sua formulação (caso seja possível realizar essa substituição), ou ajustar a dose administrando doses mais baixas do medicamento. Essa decisão e avaliação, bem como a dose correta a ser administrada para esses animais, devem ser feitas pelo Médico Veterinário.
Por se tratar de um medicamento de baixo custo que não necessita de uma prescrição médica, é comum muitos proprietários medicarem os seus animais sem antes consultar o médico veterinário. Dessa forma, reforçamos aqui a necessidade de SEMPRE consultar um médico veterinário e JAMAIS administrar qualquer medicamento sem a orientação deste profissional.
Os sinais de intoxicação incluem: êmese, midríase (pupilas dilatadas), desorientação, fraqueza, sonolência, tremores, sialorréia (abundante secreção de saliva), bradicardia, convulsões, entre outros.
Não há antidoto especifico. Em caso de intoxicação é indicada a indução da êmese (em casos de intoxicações recentes) ou lavagem gástrica. Além disso, pode-se realizar uma fluidoterapia com reposição de eletrólitos, suporte nutricional por tubo esofágico, mudar frequentemente o animal de posição. Se necessário, pode-se utilizar a ventilação mecânica.
NÃO ADMINISTRAR BENZODIAZEPÍNICOS (Diazepam, por exemplo) e outros agentes que estimulem o GABA em casos de convulsões, pois eles podem agravar a estimulação no sistema nervoso central. Nesse caso é indicado utilizar um barbitúrico, como o fenobarbital ou o pentobarbital.
Caso clínico
Perigo: Collie, Border Collie, Pastor de Shetheland e a Ivermectina
Avermectinas
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