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Sobre a doença

 

A Giardia sp. em sua forma parasitária - o trofozoíto -, se prende às células epiteliais do intestino delgado, causando-lhe lesões. Em animais jovens, sobretudo cães, altas infestações podem causar enterites, com episódios intercalados de constipação intestinal e diarreias.

 

A espécie que acomete os cães e os gatos é a Giardia duodenalis (também chamada de G. lamblia e G. intestinalis). A infecção se dá pela ingestão de cistos maduros e a transmissão ocorre pela água e alimentos contaminados. Os cistos da Giardia são eliminados pelas fezes e são resistentes no ambiente por longos períodos. É uma doença altamente contagiosa e constitui uma zoonose.

               

Os principais sintomas são: diarreia aguda e autolimitante (persistente ou intermitente), vômito, perda de peso, fezes com odor fétido, gases, distensão e dores abdominais. Possíveis complicações são a má absorção de gorduras e nutrientes (como vitaminas lipossolúveis, vitamina B12, ferro e lactose) e a redução no desenvolvimento de indivíduos jovens. Para conferir mais informações sobre a Giardia, clique aqui.

 

 

Controle e Tratamento

 

Os fatores que aumentam a ocorrência da giardíase são a alta densidade populacional, práticas sanitárias deficientes e contaminação ambiental – pontos críticos que merecem muita atenção sobretudo em canis. Os principais cuidados a serem tomados são: higienização das instalações com remoção diária das fezes, proteção da água de bebida, limpeza e desinfecção da região perianal (para diminuir a transmissão de cistos). Os cistos resistem à cloração e à maioria dos desinfetantes, mas não à fervura da água.

 

O objetivo do tratamento é a eliminação dos sinais clínicos, da infecção e interromper a eliminação de cistos. Entretanto, animais assintomáticos com o parasito também podem necessitar de tratamento, uma vez que as infecções por Giardia podem levar a um aumento de suscetibilidade a outras doenças e a ganho de peso e conversão alimentar reduzidos. Os principais fármacos empregados no tratamento desta protozoose serão discutidos a seguir.

               

 

 

Metronidazol

               

Nomes comerciais (clique para consultar a bula):

Giarcid - CEPAV Laboratórios

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Stomorgyl - Merial

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Utilizam-se também medicamentos humanos, adaptando-se a dose aos animais, tais como o Flagyl® (para consultar a bula, clique aqui)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mecanismo de ação: após entrar na célula do protozoário, interage com seu DNA e causa perda de sua estrutura helicoidal e quebra das suas alças, ocasionando a morte do parasita.

               

Efeitos adversos: animais hipersensíveis ao metronidazol podem apresentar desordens neurológicas, letargia, fraqueza, neutropenia, hepatotoxicidade, hematúria, anorexia, náuseas, vômitos e diarreia.

               

Toxicidade: cães tratados com altas doses podem apresentar disfunção do sistema nervoso central – ataxia, tremores, nistagmo vertical, opistótono, espasmos da musculatura lombar e dos membros posteriores e cauda caída. Um estudo realizado com gatos indicou também sinais neurológicos, entre eles ataxia e convulsões generalizadas, com a administração de altas doses de metronidazol, sendo que estes sinais puderam ser revertidos com a retirada da droga e a implementação de terapia de apoio. Tal estudo pode ser conferido no artigo Metronidazole neurotoxicosis in two cats.

                           

Contraindicações: além dos casos de hipersensibilidade ao composto, não se recomenda o uso em animais debilitados, em gestação (possui efeito teratogênico), lactação ou recém-nascidos.

               

Observações: há risco de desenvolvimento de resistência das cepas de Giardia.

 

A associação frequentemente feita entre o metronidazol e a sulfadimetoxina, a exemplo do GIARDICID®, visa a ampliação do espectro de ação, sendo que o metronidazol atua preferencialmente sobre a Giardia e o sulfadimetoxina age contra outros protozoários e bactérias patogênicas do trato gastrointestinal.

 

Estudos apontam que o metronidazol é uma eficiente ferramenta no tratamento da giardíase em felinos. Geralmente se relata que, após um período de tratamento com o metronidazol, há total erradicação dos cistos da Giardia das fezes, bem como a resolução do quadro clínico dos animais. Informações detalhadas podem ser conferidas nos seguintes artigos: Treatment of feline giardiasis with metronidazoleMetronidazole for the treatment of feline giardiasis. Em cães, por outro lado, tem aproximadamente 67% de eficácia.

 

Também age contra outros microorganismos da microbiota do trato gastrointestinal e pode ter efeitos imunológicos sobre populações de células do intestino. Um dado interessante com relação a isso, no entanto, é que um estudo verificou que a administração prévia de probióticos revelou-se capaz de reduzir a taxa de infecção de animais e a excreção de antígenos de Giardia nas fezes, sendo que há uma evidência científica de que os probióticos podem constituir uma alternativa na prevenção dessa parasitose. Os autores relatam que o uso do probiótico Saccharomyces boulardii associado ao metronidazol é mais eficaz que o uso do metronidazol isolado no tratamento da giardíase. Informações adicionais podem ser obtidas no artigo Potencial bioterapêutico dos probióticos nas parasitoses intestinais.

 

 

 

               

Tinidazol

 

Nome comercial: no Brasil, não existem linhas veterinárias do tinidazol disponíveis no mercado. No entanto, ele é um medicamento bastante utilizado na clínica de pequenos animais para o tratamento da giardíase – ocorre o uso do medicamento humano adaptando-se a dose. Em cães, recomenda-se uma dose de 44 mg/dia, durante 3 dias.

 

Para consultar a bula do Facyl®, clique aqui

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mecanismo de ação: o grupo nitro da molécula de tinidazol é capaz de aceitar elétrons de diversos substratos reduzidos endógenos, como o NADPH. Essas formas reduzidas quimicamente reativas da droga levam a formação de produtos citotóxicos que destroem as células da Giardia, através da destruição da cadeia do DNA ou inibição de sua síntese.

 

Farmacocinética: tanto em cães quanto em gatos, a absorção oral do tinidazol é completa. A meia-vida do fármaco é cerca de duas vezes mais longa nos gatos (8,4h) do que nos cães (4,4h). Do ponto de vista farmacocinético, o tinidazol é um fármaco considerado bem adequado ao uso em pequenos animais. Estes e outros dados podem ser conferidos no artigo: Pharmacokinetics of tinidazole in dogs and cats.

 

Observações: apesar de o medicamento de escolha para o tratamento da giardíase em cães e gatos ser frequentemente o metronidazol, o tinidazol pode ser utilizado com um índice aproximado de 92% de curas sem efeitos colaterais.

 

O tinidazol é considerado mais eficaz do que o metronidazol contra os microorganismos que ambos os fármacos combatem – em linhas gerais, a atividade in vitro do tinidazol é 1,8 vezes maior do que a do metronidazol. Estudos indicaram que, frente à Giardia lamblia, o tinidazol apresentou uma boa atividade in vitro, com uma CMI90< 0,5 µg/ml, apesar da necessidade de atualização destes dados. Informações mais detalhadas podem ser obtidas no artigo: Tinidazol: un anaerobicida clásico con múltiples usos potenciales en la actualidad.

 

 

 

 

Anti-helmínticos

 

Princípios ativos: febendazol, albendazol, febantel, pirantel e praziquantel.

 

Nomes comerciais (clique para consultar a bula):

Canex Premium - SESPO

Drontal Plus - Bayer

Drontal Plus Sabor Carne - Bayer

Drontal Puppy - Bayer

Endogard - Virbac do Brasil

Fenzol Pet - União Química Farmacêutica Nacional S/A

Helfine Plus Cães  - União Química Farmacêutica Nacional S/A

Panacur 10% - Intervet do Brasil

Panacur Comprimidos 500mg - Intervet do Brasil

Top Dog - Ourofino

Vermivet Plus 2,0g - Laboratório Bio-Vet S/A

Vermivet Plus 660mg - Laboratório Bio-Vet S/A

 

O mecanismo de ação destes fármacos tradicionalmente empregados no tratamento de helmintoses sobre o protozoário Giardia spp. não é bem elucidado, entretanto a eficiência deles no tratamento e na profilaxia da giardíase é comprovada.

 

Febendazol: os estudos Efficacy of fenbendazole in the treatment of experimental Giardia infection in dogs e Efficacy of fenbendazole against giardiasis in dogs demonstraram que o febendazol, na dosagem indicada para o tratamento de helmintoses, é uma droga efetiva para o tratamento de infecções causada pela Giardia em cães. Segundo profissionais médicos veterinários clínicos, é bastante utilizado tanto no tratamento quanto na profilaxia da giardíase. Um estudo realizado com gatos concomitantemente infectados com Giardia e Cryptosporidium parvum indicou que animais com infecção persistente por C. parvum podem ter fracasso na terapia para giardíase com febendazol. Informações mais detalhadas podem ser conferidas no artigo Evaluation of fenbendazole for treatment of Giardia infection in cats concurrently infected with Cryptosporidium parvum.

 

Albendazol: o trabalho Efficacy of albendazole against giardiasis in dogs demonstrou que quatro doses de albendazol (25 mg/kg, via oral, a cada 12h) são altamente eficazes e não tóxicas para o tratamento da giardíase em cães. Não se recomenda o uso do albendazol em fêmeas prenhes pois suspeita-se de efeito teratogênico. Efeitos colaterais como distúrbios gastrintestinais, hipertermia e erupções cutâneas foram relatados.

 

Febantel, Pirantel e Praziquantel: os estudos EFICÁCIA DO FEBANTEL, PAMOATO DE PIRANTEL E PRAZIQUANTEL NO TRATAMENTO DE Giardia spp. EM CÃES NATURALMENTE INFECTADOS, Efficacy of a drug combination of praziquantel, pyrantel pamoate, and febantel against giardiasis in dogs e Efficacy of a combination of febantel, pyrantel, and praziquantel for the treatment of kittens experimentally infected with Giardia species demonstraram que a combinação de febantel, pirantel e praziquantel é eficaz no tratamento da giardíase, sendo indicada para animais que estão eliminando cisto de Giardia pelas fezes, tendo eles ou não sintomatologia clínica da infecção. O primeiro estudo citado indicou que a associação foi eficaz na eliminação dos cistos presentes em 66,7% dos animais, entretanto não foi eficaz na prevenção contra a reinfecção, indicando a necessidade de se empregar doses consecutivas em cães que vivem em locais com condições favoráveis à sobrevivência dos cistos no ambiente. Com relação a interações medicamentosas, não utilizar esta associação concomitantemente ao uso de morantel ou levamisole, dado que estes têm similar mecanismo de ação e toxicidade; como piperazina e pirantel têm mecanismos de ação antagonistas, não utilizá-los juntos. A associação é provida de ampla margem de segurança. Pode-se também utilizar durante a gestação e a lactação.

 

 

 

 

Quinacrina

               

Princípio ativo: cloridrato de quinacrina ou cloridrato de mepacrina.

               

Nomes comerciais: não há medicamentos cujo princípio ativo é a quinacrina comercializados no Brasil. No entanto, nos Estados Unidos, no mercado podem ser encontrados QUINACRINE HCL: CAPSULE e QUINACRINE HCL: ORAL OIL SUSPENSION.

               

Farmacocinética e via de administração: a quinacrina se distribui nos tecidos, tendendo a se acumular no fígado, baço, pulmões e glândulas adrenais. É geralmente administrado por via oral ou, com menor frequência, por via intramuscular.

               

Toxicidade: doses acima das recomendadas podem levar a vômitos e distúrbios das atividades motora e psicomotora em cães e gatos.

               

Observações: na forma de suspensão oleosa encontrada nos Estados Unidos, é notável a ampla gama de opções de flavorizantes disponíveis para otimizar a administração do medicamento ao paciente.

 

Metronidazol
Quinacrina
Tinidazol
Anti-helmínticos

Giardíase

 

 

Para navegar diretamente pelos fármacos utilizados no tratamento da giardíase, clique nos botões abaixo:

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